quarta-feira, 29 de setembro de 2010

II Seminário da Linha de História da Educação PPGE/UFPB

sábado, 25 de setembro de 2010

O Fado



Não tem como ir a Lisboa ou Coimbra e não comparecer uma casa de Fado. Por mais que meu orientador portugues fosse contra esse tipo de cultura "excessivamente popular". Me lembro que ele falava para evitar os 3 F de Portugal, o Fado, o Futebol e Fátima. Elitismos a parte eu preferi deixar isso de lado e fui na Tasca do Chico, uma vez na Alfama e outra no Bairro Alto. Sugiro que quem for prefira a da Alfama pois n
o Bairro é mais barulhenta e fica meio difícil de apreciar a musica. Quando o espetáculo começa é muito bonito as luzes se apagam se pede silêncio para o Sr Fado. E é incrível como ele realmente toca a gente volta e meia e olhava na mesa e tinha um chorando, todos tocados pela música e pela saudade. O Fado apesar de ser português na sua essência nasceu no Brasil. A palavra fado vem do latim fatum, ou seja, "destino". De origem obscura, terá surgido provavelmente na primeira metade do século XIX. Uma explicação popular para a origem do fado de Lisboa remete para os cânticos dos Mouros, que permaneceram no bairro da Mouraria, na cidade de Lisboa após a reconquista Cristã. A dolência e a melancolia, tão comuns no Fado, teriam sido herdad as daqueles cantos. No entanto, tal explicação é ingénua de uma perspectiva etnomusicológica. Nascido no Brasil, o fado tornou-se conhecido em Portugal após o retorno da corte de D. João VI à Europa, para desaparecer completamente da tradição musical brasileira. Fado é uma canção popular portuguesa tipicamente urbana, cantada sobretudo nas ruas e bares de Lisboa e, em Coimbra, no meio estudantil. É acompanhada ao violão e eventualmente dançada. A temática da dor e do destino, recorrente na poesia portuguesa, aparece no fado tradicional, mas também há fados alegres e satíricos, e outros sobre temas variados, como política e religião. O chamado fado batido surgiu no início do século XIX, como dança de umbigadas semelhante ao lundu. Popularizou-se primeiro no Rio de Janeiro e depois na Bahia. Na década de 1830, já existiam em Lisboa inúmeras casas de fado, onde moravam as fadistas, jovens que cantavam, tocavam e "batiam" o fado num ambiente de bordel. Por volta de 1840, o canto ganhou especial importância, o que parece haver coincidido com a substituição da viola pelo violão. A partir de sua apresentação em espetáculos, no final do século XIX, o fado se enriqueceu musicalmente e teve atenuada a morbidez dos temas poéticos. Renovou-se na década de 1930, com intérpretes como Amália Rodrigues, cujos ornamentos melódicos trazem à lembrança o canto cigano e mourisco, e Hermínia Silva. O violão ganhou destaque e passou a responder ao cantor. Em meados do século XX, o fado tornou-se conhecido fora de Portugal. Na segunda metade do século XIX, surge em Lisboa, embalado nas correntes do romantismo, uma melopeia que tanto exprimia a tristeza unânime de um povo e a desilusão deste para com o ambiente instável em que vivia, como abria faróis de esperança sobre o quotidiano das gentes mais desfavorecidas e, mais tarde, penetrava ainda nos salões da aristocracia, tornando-se rapidamente uma expressão musical nacional.

Porém, a sua origem histórica, sem grandes aprofundamentos, tem para uns autores filiação mourisca ou africana, e para outros surge como importação do Brasil, sob o espectro da tradição do lundum, que terá encontrado a expressão máxima com o acompanhamento da guitarra. Os temas mais cantados no fado são a saudade, a nostalgia, o ciúme, as pequenas histórias do quotidiano dos bairros típicos e as lides de touros. Eram os temas permitidos pela ditadura de Salazar, que permitia também o fado trágic
o, de ciúme e paixão resolvidos de forma violenta, com sangue e arrependimento. Letras que falassem de problemas sociais, políticos ou quejandos eram reprimidas pela censura. Deste fado "clássico" (também conhecido por fado castiço) são expoentes mais recentes Carlos Ramos, Alfredo Marceneiro, Maria Amélia Proença, Berta Cardoso, Maria Teresa de Noronha, Hermínia Silva, Fernando Farinha, Fernando Maurício, Lucília do Carmo, Manuel de Almeida, entre outros. O fado moderno iniciou-se e teve o seu apogeu com Amália Rodrigues. Foi ela quem popularizou fados com letras de grandes poetas, como Luís de Camões, José Régio, Pedro Homem de Mello, Alexandre O’Neill, David Mourão-Ferreira, José Carlos Ary dos Santos e outros. É um cordofone com a caixa harmónica piriforme - o bojo ou cabaço -, sem enfranque, a aguçar para o braço, e de fundo chato e tampos aproximadamente paralelos. A sua boca é redonda; arma com seis ordens de cordas todas metálicas, as três primeiras com cordas lisas, as três últimas com corda lisa e bordão em oitava. A guitarra portuguesa (português europeu) ou bandolim (português brasileiro) é um instrumento musical de origem incerta. Alguns pretendem que é um cruzamento do cistre renascentista e o alaúde árabe. Outros pretendem que é um cruzamento da bandurra espanhola com o cistre inglês, que era chamado de guitarra inglesa em Portugal. Gonçalo Paredes e Flávio Rodrigues, entre outros, foram os compositores mais respeitados dentro do estilo tradicional. Posteriormente Artur Paredes surgiu com a sua interpretação pessoal do instrumento beneficiando a sua acústica de diversas formas. Trabalhando com a família de construtores Grácio, de Coimbra, Paredes trouxe o instrumento para a era moderna, onde ele se mantém hoje, como perfeitamente actual. Carlos Paredes, filho de Artur Paredes, criou novas melodias e tornou a Guitarra Portuguesa num instrumento de concerto, tocando com músicos de jazz, tal como Charlie Haden, entre outros. Simultaneamente, em Coimbra, António Brojo e António Portugal desenvolveram tanto a Guitarra Portuguesa como o Fado de Coimbra, ultrapassando limitações anteriores, quer na composição quer na improvisação. Fez pela composição o que seu pai fez pelo instrumento propriamente dito. Será também de referir o papel fundamental de [[Pedro BOSS ]] na divulgação da Guitarra Portuguesa a vários níveis, nomeadamente na compilação e publicação de "A Guitarra Portuguesa", editado pela Ediclube, e nos arranjos e interpretação de repertório erudito para a Guitarra Portuguesa. Guitarra e a composição musical de Mário Pacheco segura e envolvente não é um acaso. Reflecte dedicação, empenho e carinho especial pela arte musical e em particular pelo fado, alicerçados numa tradição familiar. Filho do guitarrista António Pacheco que acompanhou alguns dos maiores fadistas, cedo Mário Pacheco vai desvendando mistérios do trinar da guitarra e dos caminhos melódicos da composição fadista. Esta aprendizagem nata será intensificada e ampliada no estudo do solfejo e da guitarra clássica na Academia de Música de Lisboa. Todavia, é a guitarra portuguesa que o prende, o instrumento que, como afirma, "mais expressivamente define o fado". Estuda afincadamente os grandes guitarristas: Armandinho, Artur Paredes, Carlos Paredes, Pedro Caldeira Cabral e Fontes Rocha. Estão lançadas as bases que lhe permitem ir construindo o seu estilo próprio quer como executante, acompanhando grandes vozes como Amália Rodrigues, Alfredo Marceneiro, Hermínia Silva, Tristão da Silva ou Max, nomes que seu pai também acompanhara, quer mais tarde como compositor. Com o embalo musical que tinha foi inevitável que surgisse essa vontade e a inspiração para compor no entendimento pleno das formas e harmonias fadistas. Carloz Zel, Paulo de Carvalho, Ana Sofia Varela, Rodrigo Costa Félix, Mísia, Joana Amendoeira, Camané, Mariza e Amália, cantam melodias suas. Em 1992 é editado o seu primeiro álbum, “Um outro olhar” que procura traduzir como a música de Mário Pacheco reflecte uma outra visão da nostalgia e de como a saudade e a tristeza se cruzam, harmoniosamente, abrindo-se a outras linguagens musicais, pois também o fado é reflexo e súmula de várias outras melopeias. A este álbum que marcou a história musical portuguesa seguiram-se “Guitarras do fado”, “Cantar Amália” e “Guitarra portuguesa”. A guitarra portuguesa, a composição e os ambientes fadistas continuam a inspirá-lo, norteiam-lhe a vida. Mário Pacheco tinha entretanto encontrado na histórica Alfama, junto à secular Sé Catedral de Lisboa, um local onde cria um espaço de referência do fado e também de criação artística. Chama-lhe "Clube de Fado". Na realidade é um clube enquanto espaço de convívio, de tertúlia e troca de ideias em ambiente fadista. Este espaço onde o fado acontece todas a noites faz jus à tradição. É aí que Mário Pacheco solta amarras e a sua guitarra
viaja... O CD/DVD espelha uma “saída fora de portas” no ambiente aristocrático do Palácio Nacional de Queluz. Neste espectáculo, Mário Pacheco lembra os seus “mestres”: Carlos Paredes e José Fontes Rocha, compondo dois instrumentais em sua homenagem e convida fadistas que interpretam as suas melodias: Camané, Rodrigo Costa Félix, Ana Sofia Varela e Mariza, quatro nomes incontornáveis do fado, assim como os músicos Carlos Manuel Proença (viola), Rodrigo Serrão (contrabaixo), Marta Pereira da Costa (Guitarra Portuguesa) e ainda o quarteto de cordas de Arlindo Silva. Este é um cenário mágico. Na escadaria Robillion, erigida em 1764, desfilam emoções, sentimentos, imagens de vida, acontece fado pelas palavras dos poetas e na inspirada música e guitarra de Mário Pacheco. Quem tiver interesse de ouvir fado no PC pode acessar http://www.amalia.fm/radio-online/, ou mesmo em Joao Pessoa ir a Casa do Bacalhau que nas quartas e sexta tem apresentação.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Igrejas de Portugal- Igreja da Memória-Lisboa













Eu sempre fui apaixonado pela história da família Távora e da figura do Marques de Pombal.. É uma história muito interessante e tinha me prometido que iria visitar o local onde os integrantes da família foram supliciados no Belém em Lisboa e o local onde estariam os restos do Marques que fiquei sabendo estariam em Belém só não sabia exatamente onde.. Então numa tarde de domingo resolvo ir. Saio de casa as 12 horas. Pego o metro da linha amarela até a estação da Marques de Pombal e em seguida a linha até o Cais do Sodré. De lá pego o elétrico e sigo para Belém. Mas não estava interessado mais em ver a Torre de Belém e nem os Jeronimos. Não que não sejam locais muito interessantes mas é que já tinha ido lá várias vezes. Então me enfiei pelo interior do bairro. Lá pelas tantas encontrei a bela Igreja da Memória.Esta Igreja foi começada a construir por volta de Maio de 1760, tendo-se celebrado a cerimônia do lançamento da primeira pedra a 3 de Setembro de 1760. A sua construção é devida a D. José I num gesto de gratidão por se ter salvo de uma tentativa de assassínio dois anos antes, em1758, no local. O monarca regressava de um encontro secreto com uma dama da família Távora quando a carruagem foi atacada e uma bala o atingiu num braço. Pombal, cujo poder já era absoluto, aproveitou a desculpa para se livrar dos seus inimigos Távoras, acusando-os de conspiração. Em1759, foram torturados e executados. As suas mortes são comemoradas por um pilar no Beco do Chão Salgado, junto da Rua de Belém. Quanto ao projeto da Igreja este é do italiano Giovanni Carlo Sicinio Galli Bibiena arquitecto e cenógrafo bolonhês autor do Teatro do Forte ou Teatro do Salão dos Embaixadores no Palácio da Ribeira (1752-1754), Teatro real de Salvaterra de Magos (1753-1792), Teatro real da Ópera do Tejo (mar.1755-nov.1755) e do Teatro da Quinta de Cima ou Teatro da Ajuda. Igualmente foi responsável pela Real Barraca da Ajuda e da sua Capela Real. A condução das obras até 20 de novembro de 1760 esteve a cargo do arquiteto italiano. Contudo, em 1762 as obras pararam por motivos econômicos, sendo apenas retomadas em Novembro de 1779. Assumindo o cargo o arquiteto Mateus Vicente de Oliveira, sendo o responsável pelo piso superior da igreja, pelo zimbório, cúpula e lanternim. Em 1785, Mateus Vicente morre, ficando por concluir a torre sineira. Hoje é a sede da Ordinariato Castrense de Portugal/Diocese das Forças Armadas. Em estilo neo-clássico, a igreja é pequena, mas graciosa, sendo o interior em mármore e tendo no exterior uma bela cúpula. Contudo seu pormenor mais significativo é o fato de servir de mausoléu ao Marquês de Pombal, que está ali sepultado. Nas fotos a ordem é a seguinte: a primeira é o Beco do Chão Salgado onde a familia Távora foi supliciada; a segunda é a urna funerária do Marques de Pombal e as seguintes são da Igreja da Memória.

domingo, 19 de setembro de 2010

No Coração de Portugal: Série especial do Jornal da Band sobre Portugal. Parte 1

Estava a assitir o Jornal da Band esta semana e me dei de cara com uma reportagem especial sobre Portugal. Pelos meus posts anteriores toda a gente percebeu que estive lá por quatro meses a fazer um estágio doutoral. Portugal é um país incrível, muito bonito. Ai Lisboa que saudades de ti. Saudades de ouvir o fado da Alfama e caminhar pelas rua do Bairro Alto. Pois, tentando sair do lugar comum o repórter tentou sair do lugar comum e mostrar os locais de sempre. Acredito que ele conseguiu e nos mostrou um outro Portugal. A única crítica foi a falta de Lisboa. Mais uma dica que tiver interesse de ouvir um fado acesse a rádio Amália FM pelo link: http://www.amalia.fm/radio-online/. Conheci a rádio através de dois amigos que por lá fiz Mateus e Marcos. Eu fiquei um pouco alheio no início ao fado por achar por demais popular, mas depois me apaixonei vibro quando ouço "Lisboa, menina moça".

No Coração de Portugal: Série especial do Jornal da Band sobre Portugal. Parte 1

No Coração de Portugal: Monumentos históricos viram hoteis. Série especial do Jornal da Band sobre Portugal. Parte 1

sábado, 4 de setembro de 2010

Quase memória

Relação do brasileiro com seu passado é
mais tênue do que aquela construída nos
países europeus e mesmo nas demais
nações latino-americanas


PETER BURKE
COLUNISTA DA FOLHA

Na última geração, os europeus experimentaram um "boom de memória", uma onda de interesse, tanto acadêmico quanto popular, pelas lembranças; não apenas memórias individuais, mas também coletivas -em outras palavras, imagens compartilhadas do passado.
Essa onda de interesse foi ao mesmo tempo expressada e incentivada pela série de sete livros de enorme sucesso lançada pelo estudioso-editor Pierre Nora entre 1984 e 1993, sob o título "Les Lieux de Mémoire" [Os Lugares de Memória].
A idéia central de Nora foi pedir a seus colaboradores que se concentrassem em lugares associados a memórias coletivas do passado francês - lugares geográficos, como Versalhes ou o Panteão, mas também lugares metafóricos, como a "Enciclopédia Larousse" ou mesmo a "Marselhesa".
A série foi imitada em outros países europeus, como a Alemanha e a Itália. Poderia ou deveria ser imitada também no Brasil?
Poder-se-ia afirmar que no Brasil ou em outros lugares do Novo Mundo um empreendimento como o de Nora seria inadequado, pois, em comparação com a Europa, nas Américas um edifício é considerado antigo quando data da década de 1930, e a população de muitos países é relativamente jovem e mais voltada para o futuro do que para o passado.
Na verdade, os brasileiros parecem ainda menos preocupados com o passado do que as populações de outros países latino-americanos, especialmente a Argentina.
De todo modo, o Brasil tem seus próprios "lugares de memória". Os nomes de muitas localidades, de Iguaçu a Paraíba, têm um significado em tupi e assim nos lembram, ou deveriam lembrar, os tupinambás e outros "primeiros povos".

Cidades, pessoas

As cidades, por outro lado, muitas vezes evocam memórias da Europa. Os imigrantes tentaram recriar nas Américas um mundo conhecido, batizando suas cidades de Belém, Nova Friburgo, Nova Odessa e assim por diante.
Em comparação, os escravos africanos que foram trazidos para o Brasil contra a sua vontade não tiveram a oportunidade de impor nomes familiares à paisagem estranha. No entanto tentaram a reconstrução simbólica do espaço africano nos terreiros de candomblé.
As memórias locais também são importantes. Os nomes de algumas cidades e muitas ruas se referem a líderes e acontecimentos locais -João Pessoa, avenida Nove de Julho etc. Nomes como esses foram conseqüência de iniciativas oficiais.
Um testemunho mais direto de memórias populares ou atitudes em relação ao passado vem dos nomes pessoais.
Para um visitante europeu, é uma espécie de surpresa descobrir quantos brasileiros têm nomes de heróis culturais como Edison, Milton, Newton ou Washington.
O único problema é descobrir se esses nomes foram escolhidos pelos pais por sua sonoridade ou por sua associação com o Reino Unido, os EUA, a ciência ou a democracia.
Um equivalente brasileiro a "Os Lugares de Memória", se fosse publicado, como espero que um dia o seja, naturalmente incluiria as comemorações oficiais de eventos como a descoberta do Brasil pelos portugueses ou a expulsão dos portugueses da Bahia em 1823.
Como no caso da Europa, os locais de memória incluiriam museus e monumentos (embora os visitantes europeus possam se surpreender ao ver monumentos aos imigrantes no Brasil).
Também haveria espaço para pinturas históricas como "Independência ou Morte", de Pedro Américo, ou suas imagens da guerra contra o Paraguai.
De todo modo, os principais lugares de onde a maioria dos brasileiros extrai suas visões do passado são certamente o Carnaval e a telenovela.
Temas históricos são comuns nos enredos das escolas de samba do Rio e seus equivalentes em outras cidades -eventos como a descoberta do Brasil ou a abolição da escravatura e indivíduos como Zumbi ou o imperador d. Pedro 2º. Quanto às telenovelas, pense-se no sucesso de "A Escrava Isaura" em 1976 e novamente em 2004; e de "Sinhá Moça" em 1986 e também 20 anos depois, assim como novelas relacionadas à história mais recente, de "Éramos Seis" (1994) a "Terra Nostra" (1999).

Novelas e Carnaval

Com um pouco de exagero, poderíamos comparar as visões do passado brasileiro apresentadas nesses dois meios de comunicação. A visão carnavalesca tende a ser crítica e a apresentar o ponto de vista do escravo. Por exemplo, em 1988, centenário da abolição da escravidão, o tema da Mangueira foi "Cem Anos de Liberdade - Realidade ou Ilusão?".
As novelas, por sua vez, geralmente apresentam uma visão de harmonia social -embora apareçam os fazendeiros e capatazes cruéis, os protagonistas (em geral brancos ou mestiços) são generosos e idealistas.
Em suma, poder-se-ia dizer que o Brasil tem o que poderíamos chamar de um "regime de memória" próprio. Em contraste com a França e outras partes da Europa, há menos preocupação com o passado, e os lugares associados às memórias também são diferentes.
O contraste entre o regime de memória do Brasil e o de seus vizinhos hispano-americanos não é menos notável. As estátuas eqüestres de líderes como Bolívar, San Martín e Artigas não são muito presentes no Brasil (com exceção do Rio Grande do Sul, pelo menos), uma lembrança de que o Brasil conquistou a independência por meios mais pacíficos do que a América espanhola.
Uma estátua foi oferecida a dom Pedro 2º depois da Guerra do Paraguai, mas o imperador a recusou, enquanto o marechal Deodoro teve de esperar até 1937 e as políticas de comemoração do regime Vargas para que sua estátua eqüestre fosse erguida no Rio.
Outro contraste entre o Brasil e seus vizinhos, especialmente a Argentina, o Chile e o Peru, se refere às memórias recentes de regimes autoritários e às pessoas "desaparecidas".
O Brasil não tem equivalente à Comissão da Verdade chilena -embora uma equipe de pesquisadores patrocinada pelo cardeal Paulo Evaristo Arns, ex-arcebispo de São Paulo, tenha publicado "Brasil, Nunca Mais", um relato dos abusos aos direitos humanos durante a ditadura militar.
Até agora a anistia e a amnésia -conceitos associados- predominaram. Essa situação vai mudar em um futuro próximo ou o regime de memória do Brasil continuará original?

PETER BURKE é historiador inglês, autor de "O Que É História Cultural?"
(ed. Zahar). Escreve na seção "Autores", do Mais!.
Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves.