Escola pública cobra de aluno para fazer prova
Estudantes que não pagam cerca de R$ 2 têm o número de matrícula anotado na lousa e precisam copiar as questões à mão
Colégio também vende uniformes, cuja utilização é obrigatória no local; qualquer cobrança é proibida na rede pública
DIOGO BERCITO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Escola Estadual São Paulo, colégio modelo da rede pública paulista, localizada na região do Brás, bairro do centro da capital paulista, cobra entre R$ 1,50 e R$ 2 de seus alunos para a realização de provas bimestrais e comercializa uniformes -uma calça custa cerca de R$ 50 e uma camiseta, R$ 20.
As duas práticas contrariam lei, de 1983, segundo a qual escolas públicas do Estado não podem cobrar nenhum tipo de tarifa dos estudantes.
Na Escola São Paulo, quem não paga pela prova tem seu número de matrícula anotado na lousa e é obrigado a copiar os enunciados à mão, em papel trazido de casa, segundo alunos ouvidos pela reportagem. A escola alega que o valor cobrado cobre gastos com xerox.
O caso foi relatado à Folha por 28 alunos, oito pais e um professor, que pediu anonimato. Confirmam também a denúncia a Ubes (União Brasileira de Estudantes Secundaristas) e a Upes (União Paulista de Estudantes Secundaristas), que se posicionam contra a prática.
A direção da escola admite que já vendeu uniformes, cujo uso é obrigatório no colégio, mas diz ter interrompido a comercialização em junho, após a publicação de portaria da Cogsp (Coordenadoria de Ensino da Região Metropolitana da Grande São Paulo).
O informe, de 18 de junho e publicado no "Diário Oficial" do Estado, diz que a comercialização de uniformes não pode ser feita dentro do ambiente escolar, sob pena de resultar em sanções administrativas.
Apesar de a direção afirmar ter feito cessar a prática, a avó de uma aluna transferida para o colégio no segundo semestre relata que comprou as roupas da escola em agosto, por R$ 134 o conjunto (calça, blusão e camiseta). "Sem uniforme, me disseram que ela não poderia frequentar [as aulas]."
Outra aluna relatou que pediu a uma costureira que copiasse o uniforme e, por isso, recebeu uma advertência do colégio. "A diretora me disse que eu estava com uma roupa pirateada", afirma.
De acordo com relatos de estudantes feitos ontem, após ser procurado pela reportagem, o colégio passou a proibir a venda de provas e de uniformes. Agora, as avaliações bimestrais deverão ter os enunciados todos copiados à mão.
"É cansativo, depois de escrever tudo isso eu já vou ter esquecido o que estudei!", disse uma aluna do segundo ano. As provas, afirmaram, costumam ter até cinco páginas.
A escola, com 1.900 estudantes, foi fundada em 1894 com o nome de Gymnasio de São Paulo e já se chamou, também, Colégio Estadual Franklin Delano Roosevelt. É considerada modelo do ensino público paulista, entre outras coisas, por seu bom desempenho no Saresp (Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo). Não há ranqueamento por resultado, mas ela apresenta notas superiores à média do país.
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