Quando passeava pela FNAC do Armazém do Chiado em Lisboa via nas estantes muitos livros sobre a história portuguesa em forma de romance. Este tipo de livro ainda tem um certo olhar enviesado por parte dos historiadores que não consideram importante do ponto de vista do fazer historiográfico. Eu, apesar de ser historiador adoro um romance histórico. Um de meus objetivos é escrever um num futuro próximo. As histórias de reis e rainhas européias são fascinantes e dão sempre ótimas tramas. Este livro que indico foi escrito por uma historiadora espanhola apaixonada pela história de Portugal Maria Pilar Querat del Hierro. O livro é editado pela Esfera Livros. Abaixo uma pequena entrevista concedida por ela extraída do site da Universidade Estadual de Maringá.
A quem se dirige concretamente «As Mulheres de D. Manuel I»?
Quando escrevemos uma novela nunca pensamos num público determinado... No entanto, acredito que «As Mulheres de D. Manuel I» pode interessar todos os leitores que desejam viajar até a Era dos Descobrimentos e ao despertar do Renascimento, fazendo essa viajem ao lado de mulheres, umas muito conhecidas, outras nem tanto, que foram testemunhas excepcionais dos principais acontecimentos da época.
Sendo uma historiadora, porque escrever um romance?
Acredito que a história deve chegar ao grande público e a novela histórica, quando rigorosa e bem documentada, é um excelente meio para conseguir esse objectivo. A história não é mais do que um álbum de família colectivo e não deve ficar fechada em pequenos círculos. Quando um povo conhece o seu passado, entende melhor o seu presente e pode organizar o seu futuro.
Considera que D. Manuel I foi um dos principais monarcas europeus da sua época?
Sem dúvida. Não podemos esquecer que Portugal, no reinado de D. Manuel I, era dono de uma grande parte do Mundo conhecido. Também controlava importantes vias comerciais, que resultava decisivo no momento de estabelecer as relações de poder, além de ser uma porta aberta a novas civilizações. Ter Portugal como aliado era portanto um desejo prioritário para o resto das monarquias europeias.
Como definiria D. Manuel I?
Como um homem enérgico no desempenho do poder, curioso no âmbito cultural e muito dependente emocionalmente do seu ambiente afectivo.
Porque ele teve três rainhas espanholas? Apenas por razões de Estado?
Evidentemente que a razão de Estado pesou nos três casos. Não podemos esquecer que Portugal e Espanha repartiam os territórios do ultramar e uma aliança entre os dois países era benéfica para ambos. No entanto, no caso de Isabel, a sua primeira esposa, foi uma decisão mais pessoal, pois D. Manuel I já a conhecia porque ela esteve casada com o seu sobrinho. A verdade é que o rei recusou casar com a candidata proposta pelos Reis Católicos (Maria, que depois seria a sua segunda esposa) e, ao casar-se com Isabel, abandonou a tradicional política de tolerância da coroa portuguesa e expulsou os judeus. Algo de paixão também deve ter ocorrido no caso de Leonor, a sua terceira esposa, já que ela estava destinada a casar com o seu filho, o futuro Juan III. Todavia, curiosamente, foi com Maria, embora sendo o caso mais evidente de um matrimónio de Estado, com quem mais chegou a simpatizar.
Como explica a sua fidelidade, algo raro nesses tempos?
Sem dúvida devido a sua profunda religiosidade. Não podemos esquecer que D. Manuel I foi Grão-Mestre da Ordem de Cristo. Aliás, foi necessária uma dispensa papal que o isentava do voto de castidade para se casar.
Em termos de carácter, quais as diferenças entre Isabel, Maria e Leonor?
As três são um reflexo da época que viveram. Isabel estava ainda imbuída do espírito medieval. Ao ficar viúva do príncipe Afonso, o seu primeiro marido, pensou inclusive em seguir a via religiosa, como fez, por exemplo, a Rainha Santa Isabel. Maria é uma mulher de transição entre duas épocas: uma Idade Média que chega ao seu fim e um novo Mundo em que se descobre novas terras e se conhece novas culturas. Finalmente, Leonor, uma mulher plenamente renascentista, com tudo o que este termo implica.
E as três tiveram influência nas decisões políticas do Rei de Portugal?
Talvez a única que directamente não interferiu em demasia foi Leonor. Isabel, como já disse, impôs a intolerância de seus pais, os Reis Católicos, a tradicional política de abertura de Portugal, enquanto Maria chegou mesmo a assistir as reuniões do Conselho de Estado.
Disse numa entrevista que «escrever sobre mulheres é sempre complicado». Porque?
Sobretudo, quando se trata de personagens históricos, pela escassez de documentação ou as mitificações, como acontece por exemplo com Inês de Castro. Não podemos esquecer que as mulheres são as grandes desconhecidas da história.
Um dos méritos do livro é falar sobre algumas das cortes europeias. Foi complicado, em termos de pesquisa, achar material sobre a época?
Mais do que a investigação, foi difícil conseguir alcançar um equilíbrio entre os diferentes âmbitos da acção para que nenhum tivesse mais primazia do que o outro. Por exemplo, era muito importante falar das cortes de Flandes e da Inglaterra, mas essas referências não podiam ter mais preponderância que os autênticos protagonistas da acção, que são D. Manuel I e a suas três esposas.
D. Manuel I foi um rei marcante na história ibérica. Qual, na sua opinião, foi o momento mais importante do seu reinado?
Sem dúvida que foi o impulso que deu aos Descobrimentos, tornando Portugal uma autêntica potência colonial.D. Manuel I chegou ao trono mas a verdade é que, em teoria, o mesmo não era para ser seu; a morte das mulheres e, principalmente, dos filhos também não é algo teoricamente escrito nas nossas vidas. Como avalia a sua vida? Um predestinado ou um mero peão nas leis do destino?
Acredito que ele estava convencido de que era um predestinado. Mas D. Manuel I viveu essa condição como uma oferenda da Providência, uma oferenda que devia corresponder em vida, conduzindo Portugal a níveis nunca antes alcançados, sempre sustentada por uma vida pessoal sem máculas.
Continuará a escrever sobre a história de Portugal no futuros? Porque esse fascínio pela nossa história?
Sim, vou continuar a escrever sobre temas portugueses. Fico fascinada não somente com a História de Portugal, tão próxima e tão desconhecida em Espanha, mas pelo país em si: a cultura, a gastronomia, a paisagem, as gentes...
O curioso é que esta paixão nasceu devido aos livros de um italiano, Antonio Tabucchi, que considero uma das plumas mais relevantes do momento e que, como sabem, vive em Portugal.
5 comentários:
Meu caro...
Uma boa prova do temperamento dos "Manuéis" lá da terra!
Eu não saberia dizer/fazer melhor!
Bom final de semana.
Manuel (kkkkk)
Eu tb adoroooooooooo romances históricos Cris!
Pq é que todo mundo q faz história é sempre e constantemente tão real e literal?!
Pocha, nem nas horas de lazer o pessoal descontrai...
rs.
Este livro parece muito interessante!
:D
Então Mariana esta discussão tem a ver com a questão da CIÊNCIA HISTÓRICA como eu não vejo a História necessariamente como CIÊNCIA não vejo problema em ler ou trabalhar. Quanto a isso sou mais adepto das idéias de P. Jenkins que vê um romance histórico como uma fonte histórica sim dependendendo do contexto de sua produção. Eu adoro esse tipo de trabalho e como disse o meu um dia sairá e terá como espaço a Cidade da Parahyba, o Rio de Janeiro e Lisboa do século XIX. Os personagens Familia Távora, Pedro II, POmbal, ordens religiosas. KKK Contem muito, paro por aqui.
Pra quem gosta de História qualquer fonte de conhecimento é bem vinda. Tb não vejo mal algum uma parte da História ser contada dessa forma, desde q ñ seja só ficção, fica até mais interessante imaginar como eles viviam antigamente, as curiosidades e aventuras da epoca. Bjos Cristiano
estou curiosa para lê seus romances viu Cris!
:D
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