domingo, 30 de janeiro de 2011

As revoltas no Norte da Africa.

Concentração de pessoas na Tharir Square na cidade do Cairo. El País.
Quando estava em Portugal sempre falava que ia conhecer a Tunisia no fim de semana mas nunca dava certo na maior parte das vezes porque não arrumava companhia que tivesse coragem de ir comigo. Na realidade todos queriam ir a Paris, Roma, Amsterdam. Ninguem tinha interesse em locais mais exóticos como eu foi o que disse uma amiga. A Tunisia veio a tona estes dias por ter derrubado seu ditador com a força da população nas ruas. Foi um movimento de revolta pelos roubos e excessos de um ditador e sua esposa que tinham largas relações com os EUA. Nas análises que li nos jornais brasileiros que me parecem têm uma preguiça em pensar ou em fazer jornalismo sério já começaram a dizer que é a revolução do FaceBook, do Wikileaks. Para mim isto é ledo engano. Não podemos negar que a Rede faz com que os contatos sejam mais fáceis etc... e tudo o mais que já sabemos sobre o poder da Internet mas a revolução particularmente na Tunisia começou com o suicidio de uma jovem que ateou fogo no corpo devido a que o governo não possibilitava mais seu trabalho. A força dos movimentos que estão começando a ocorrer por ali tem mais a ver com um grande população jovem desempregada e sem um futuro que esta tomando as rédeas para fazer a mudança. Na França guardadas as devidas proporções quase aconteceu o mesmo- apesar de que ali ainda é um caldeirão pronto para explodir. Alguns países como os EUA ou Israel se vêm em momentos difíceis uma vez que seus aliados começam a cair. Vejo hoje o dia todo a CNN transmitindo o dia todo ao vivo direto do Cairo o povo na rua e o seu Faraó sumido. O problema é que apesar do Baradei que oportunamente viajou para o Egito para participar do levante, fazer parte da oposição o resto da mesmo no Egito é de Mulás. Ou seja poderemos ter uma nova nação ao estilo Irã. Problemas para Israel.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

"Sinto-me mais em casa na América Latina", diz Hobsbawm

TRISTRAM HUNT
DO "GUARDIAN", EM LONDRES

Hampstead Heath, em Londres, orgulha-se do seu papel na história do marxismo. Era lá que, aos domingos, Karl Marx subia o Parliament Hill com sua família. Nos dias de semana, Marx se juntava a Friedrich Engels para caminhar pelo parque. A ambição marxista permanece viva na casa de Eric Hobsbawm, numa rua lateral que sai do parque. Na última vez em que o entrevistei, em 2002, ele enfrentava outro ataque da mídia pela ligação com o Partido Comunista.
As coisas mudaram: a crise global transformou os termos da discussão, e a crítica marxista da instabilidade do capitalismo ressurgiu. Parecia não haver momento melhor para Hobsbawm reunir seus ensaios mais famosos sobre Marx em um volume, com material sobre o marxismo visto à luz do crash.


"Guardian" - Há no âmago desse livro um senso de algo que provou seu valor? De que, mesmo que as propostas de Marx possam não mais ser relevantes, ele fez as perguntas certas sobre o capitalismo?
Eric Hobsbawm -
Com certeza. A redescoberta de Marx está acontecendo porque ele previu muito mais sobre o mundo moderno do que qualquer outra pessoa em 1848. É isso, acredito, o que atrai a atenção de vários observadores novos -atenção essa que, paradoxalmente, surge antes entre empresários e comentaristas de negócios, não entre a esquerda.

O sr. tem a impressão de que o que pessoas como George Soros apreciam em parte em Marx é o modo brilhante com que ele descreve a energia e o potencial do capitalismo?
Acho que é o fato de ele ter previsto a globalização que os impressionou. Mas acredito que os mais inteligentes também enxergaram uma teoria que previa o risco de crises. A teoria oficial do período, fim dos anos 90, descartava essa possibilidade.

E o sr. acha que o interesse renovado por Marx também foi beneficiado pelo fim dos Estados marxistas-leninistas?
Com a queda da União Soviética, os capitalistas deixaram de sentir medo, e desse modo tanto eles quanto nós pudemos analisar o problema de maneira muito mais equilibrada. Mas foi mais a instabilidade da economia globalizada neoliberal que, creio, começou a ficar tão evidente no fim do século.

O sr. não está surpreso com o fato de a esquerda marxista e a social-democrata não terem explorado politicamente a crise dos últimos anos?
Sim, é claro. Na realidade, uma das coisas que procuro mostrar no livro é que a crise do marxismo não é só do seu braço revolucionário, mas também do seu ramal social-democrata. O reformismo social-democrático era, essencialmente, a classe trabalhadora pressionando seus Estados-nações. Com a globalização, a capacidade dos Estados de reagir a essa pressão se reduziu concretamente. Assim, a esquerda recuou.

O sr. acha que o problema da esquerda está em parte no fim da classe trabalhadora consciente e identificável?
Historicamente falando, isso é verdade. O que ainda é possível é que a classe trabalhadora forme o esqueleto de movimentos mais amplos de transformação social.
Um bom exemplo é o Brasil, que tem um caso clássico de partido trabalhista nos moldes do fim do século 19 -baseado numa aliança de sindicatos, trabalhadores, pobres em geral, intelectuais e tipos diversos de esquerda- que gerou uma coalizão governista notável. E não se pode dizer que não seja bem-sucedida, após oito anos de governo e um presidente em final de mandato [a entrevista foi feita no final de 2010] com 80% de aprovação.
Ideologicamente, hoje me sinto mais em casa na América Latina. É o único lugar no mundo em que as pessoas fazem política e falam dela na velha linguagem -a dos séculos 19 e 20, de socialismo, comunismo e marxismo.

O título de seu novo livro é "How to Change the World". No final, o sr. escreve: "A substituição do capitalismo ainda me parece possível". A esperança continua forte?
Não existe esperança reduzida hoje. O que digo agora é que os problemas do século 21 exigem soluções com as quais nem o mercado puro nem a democracia liberal pura conseguem lidar adequadamente. É preciso calcular uma combinação diferente.
Que nome será dado a isso não sei. Mas é bem capaz de não ser mais capitalismo, não no sentido em que o conhecemos aqui e nos EUA.