domingo, 23 de março de 2008

Duna: Essa é para minha colega Ana Beatriz

Em 1965, Frank Herbert escreveu Duna, uma das maiores obras de ficção-científica da humanidade. O romance, por sua extensão e inventividade, só pode ser comparado à obra de Arthur C. Clarke (Encontro com Rama, 2001), Isaac Asimov (Os robôs, Eu robô) e J.R.R. Tolkien (O Senhor dos Anéis, O Hobbit). Entre a lista de prêmios que o livro recebeu estão o Hugo e o Nebula, os mais cobiçados da sua categoria. Também ganhou continuações: O Messias de Duna, Os Filhos de Duna, O Imperador-Deus de Duna, Os Hereges de Duna e As Herdeiras de Duna.

Dezenove anos depois de seu lançamento, o livro ganhou uma versão cinematográfica. Dune, de 1984, foi dirigido pelo polêmico e inovador David Lynch (Twin Peaks, Veludo Azul, Estrada Perdida). O filme recebeu muitas críticas negativas, o que é recorrente em adaptações. Transpôr um livro para as telonas é um desafio. E algo que se torna maior ainda quando falamos de uma obra complexa como Duna. Lynch fez um ótimo trabalho considerando que teve que retalhar seu filme, inicialmente com quase oito horas de filmagens, para chegar nas duas horas e dezessete minutos finais.

Ano passado, o Sci-Fi Channel americano recriou a obra de Frank Herbert na forma de uma mini-série. É injusto comparar cada uma das versões. Enquanto, obviamente, o livro continue sendo o melhor, as duas adaptações para as telas são ótimas e têm seu lugar ao sol. Todas merecem ser apreciadas, levando em consideração suas limitações. Por exemplo, a versão de Linch parece um sonho, é melhor dirigida e tem visual mais perturbador, porém a mini-série tem uma melhor narrativa e respeita mais a obra de Herbert, sem falar nas quase 5 horas de filme.

Como a mini-série Duna do Sci-Fi chegou recentemente ao Brasil, ela é o objeto de nossa resenha. Além de ler aqui no Omelete, você pode conferi-la em VHS, DVD ou no canal a cabo Fox a partir de 15 de agosto. Divirta-se.

Revisitando Duna

A mini-série dirigida por John Harrison, não tem a verba de uma mega-produção hollywoodiana, mas não faz feio. Recria em detalhes o planeta Arrakis, local em que se passa a maior parte da mini-série, mostrando um mundo que apesar de desértico é fértil em termos de fauna e cultura. A capital do planeta e os Sietchs (as cidades dos nativos), são muito bem exploradas. Comércio, hábitos e vida cotidiana têm espaço na narrativa.

O pricipal problema é obviamente a falta de verba para os efeitos especiais. Em algumas tomadas o croma-key (o famoso fundo azul, usado depois para incluir os personagens onde nunca estiveram) é evidente, bem como os cenários pintados. Entretanto, em outras cenas, tudo está perfeitamente alinhado e verossímil. Um detalhe em particular salta aos olhos, literalmente: Os brilhantes olhos azuis das pessoas expostas ao Tempero (substância pela qual o planeta é crucial para a política interplanetária) são feitos em computação gráfica e muito mais interessantes que os do filme de Lynch, que não tinha tal recurso.

Com tempo nas mãos, o diretor pode explorar melhor a narrativa, explicando alguns pontos com maior esmero. Entretanto, uma obra como Duna não será adaptada ainda tão facilmente... Diversos pontos são deixados de lado e um pouco da dimensão de como os fatos ocorridos em Arrakis terão influência por todo o Universo, perdem um pouco da força.

Apesar disso, a nova versão da saga de Duna continua sendo uma diversão como poucas na televisão. Mas se o que você busca é uma aventura realmente densa, recheada de níveis complexos e imaginação desenfreada, prefira o livro. Esse sim, é uma aula.

Imagens © Sci Fi Channel

Um comentário:

Ana disse...

O que mais me impressiona na narrativa de Duna é a complexidade nas relações políticas, que são agravadas no planeta insólito. Eu não gosto muito de ver no cinema meus livros preferidos, a sensação de destruição no meu imaginário é muito grande (rsrs). De qualquer forma, concordo com você, as duas versões tem seu valor na transposição de uma obra tão complexa. Já tem um bom tempo que eu não releio o livro porque eu oemprestei para o meu pai que também era um fã incondicional de Arthur Clarke, Isaac Asimov, entre outros. Ele sofreu um acidente de carro indo para o Rio e meu livro se perdeu. Ele morreu três meses depois e com certeza foi o último livro que ele leu. Por isso tenho um carinho ainda mais especial por este texto. Eu tentava me lembrar da mensagem que os visitantes liam quando deixavam o planeta. Alguma coisa como "vocês que aqui estiveram tenham compaixão de nós..." Você pode copiar este trecho para mim?

Beijos,


Ana