terça-feira, 9 de junho de 2009

Morte de Paula Beiguelman enlutece mundo acadêmico e político


Faleceu nesta sexta-feira (5), em São Paulo, a professora universitária e pensadora de esquerda Paula Beiguelman, aos 83 anos, vítima de câncer. O mundo acadêmico e político progressista perdem uma colaboradora de primeira linha, que nunca abandonou ou traiu seus ideais e suas bandeiras. Que sua trajetória sirva de exemplo para as novas gerações de acadêmicos e militantes de esquerda.


PAULA BEIGUELMAN (1926-2009)

Paula Beiguelman licenciou-se em Ciências sociais pela Faculdade de filosofia, Letras e ciências Humanas, da Universidade de São Paulo. Doutorou-se em Política com a tese ''Teoria e ação no Pensamento Abolicionista''. Tornou-se livre-docente do Departamento de Ciências Sociais defendendo a tese ''Contribuição à teoria da organização política brasileira''. Obteve nova livre-docência com a aprovação da tese ''A Formação do povo no complexo cafeeiro; aspectos políticos''. Colaboradora do saudoso professor Lourival Gomes Machado, dirigiu a cadeira de Política por alguns anos, tempo em que o titular se encontrava na Europa, a serviço da Unesco. Além de ocupar-se dos cursos regulares de graduação, orientou vários outros de pós-graduação.

A professora foi uma das 219 acadêmicas que tiveram aposentadoria forçada pelo regime militar. Como tantos outros professores -a lista incluía nomes como Florestan Fernandes e Fernando Henrique Cardoso-, Paula se viu afastada da vida universitária naquele abril de 1969, devido a um ato institucional.

Quando os anos de chumbo se foram, voltou a dar aulas na USP. Atualmente, era professora emérita da USP, título que lhe foi concedido recentemente pela congregação da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) daquela universidade.

''A vida dela era a universidade'', lembra o irmão, o geneticista Bernardo Beiguelman.

Paula também exercia o cargo de vice-presidente do Sindicato de Escritores do Estado de SP.

Dona de um texto ''enxutíssimo'', como lembra o irmão, publicou várias obras.

''Ela sempre foi do essencial. Enquanto os outros escreviam em três, quatro volumes, ela fazia em um só.'' É autora, entre outros, de ''A Formação do Povo no Complexo Cafeeiro: Aspectos Políticos'', ''Os Companheiros de São Paulo: Ontem e Hoje'' e ''O Pingo de Azeite: A Instauração da Ditadura''.

Natural de Santos, começou cedo a colaborar com a seção literária do jornal ''A Tribuna''. Também exerceu crítica literária nos livros ''Viagem Sentimental a Dona Guidinha do Poço'' e ''Por que Lima Barreto?''.


Colaboradora do Vermelho

Desde 2006, a professora Paula Beiguelman colaborava assiduamente com textos para o Vermelho, do qual era colunista. Seus últimos textos versavam sobre temas diversos da conjuntura econômica e política do Brasil. Também colaborou com diversos artigos para publicações marxistas como a revista Princípios.

Defensora incansável das causas justas e internacionalistas, Paula integrava ainda o Conselho Consultivo do Cebrapaz (Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz).

Neste sábado, durante reunião do Comitê Central do PCdoB, o secretário nacional de Organização do partido, Walter Sorrentino, manifestou pesar pelo falecimento da eminente companheira e intelectual Paula Beiguelman. "Ela soube aliar, em toda sua atuação, o rigor acadêmico com sólidos compromissos com os trabalhadores, a nação e a luta pelo socialismo. Foi, além disso, um exemplo de pessoa simples e honrada, dedicada e leal, pelo que seus companheiros do PCdoB a terão sempre na memória", afirmou o dirigente comunista.

Paula era viúva e não deixa filhos. O enterro foi ontem, no cemitério Israelita do Butantã, em São Paulo.

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